Saturday, December 26, 2009

Alusão ao presente



O amor a mim pouco me diz senão que te amo.

Diz-mo no ouvido,

Um suspiro,

E lentamente me alimenta,

Céptico assombrado,

Intelectual do coração.

O que me dás apenas te posso dar de volta,

Um agradecimento ou um sentimento,

O mais puro dos puros,

Mesmo que regrado.

Uma entrega mesmo que contida,

Pois da fonte que me rega existem apenas velhos senhores,

De caras rigídas cinzentas,

Que enviam água e luz num fluxo lento mas estável.

Tão estável como o sol e a lua,

Tão estável como o meu amor.

Acordar



O fundo do vaso é um vazio.

Peixes gordos sumarentos,

Vermelhos como o fogo,

Mexem-se sem água,

Perdidos insolentes.

Num jardim verde em volta,

As árvores dançam acompanhadas,

Á musica de passáros iluminados,

Paradisíacos e tenazes.

A terra é uma simbiose com a erva que lhe pertence.

E chega a noite,

E chega o mundo, realidade.

A realidade acomoda, enche de nervos.

As pupilas enrrigessem,

Os dedos apertam o vaso e num movimento fusco o parte em pedaços,

São muitos e muitos, e não param de partir.

E são tantos e tantos e não param de me atormentar.

Os peixes morrem, assustados,

Os passáros param desconfiados e as árvores temem, sossegadas.

O silêncio instalado indica o terminar,

O terminar dum conto,

O arder da fantasia.

Passado dos Dedos



Alarmismo nos meus dedos, quando toco na guitarra.

O passado percorre os meus dedos, o sentimento dilacera, a sua força cria ideias e liga sistemas.

O passado do meu quarto é tão doloroso como caloroso no meu coraçao,

E será assim para sempre enquanto as paredes do meu quarto e casa estiverem em pé.

Se for pelo amor que sinto por ela, estão sólidos.

A dor que permanece fechada cuidadosamente num quarto onde raramente vou e vão os meus,

É o meu antigo quarto, o meu antigo passado, o meu antigo eu e os fantasmas que lá habitam teimosamente.

Recuso-me a dormir lá pois é frio e é ruina.

O local sobeja de choro e ridiculismo, misturado com prazer e momentos únicos da vida.

E é a minha nova parede preta que me ilumina, curiosamente, a mudança que me mostra é uma liçao de vida angustiante, mas necessária.

O passado atormenta, atormentará sempre como um racha na parede que não podemos arranjar,

Uma conformidade da vida que tento combater, mas cuidadosamente, sabendo dos perigos e dos avanços e recuos.

É o passado que me faz viver, mas que me lembra igualmente do que é morrer.