São histórias, muitas,
Que entreteriam qualquer um até ao infinito.
E por elas não me sinto sozinho,
Desde o nascimento até à morte,
Fazem a minha viagem penosa
Fazem na valer a pena.
Queria lá estar com todos eles,
Sem senãos,
Para aproveitar a viagem.
E que viagem essa seria.
O mundo caia lá fora, toneladas de chuva partiam o silêncio da noite com um burburinho ensurdecedor. As coisas no meu quarto dormiam á melodia de uma música leve de emoção, numa voz doce feminina. Todas as coisas dormiam menos eu e o meu teclado que me ajuda a escrever. Por momentos o meu candeiro abriu o olho em descontentamento quando o liguei para me ajudar a ver as teclas, quer dormir e eu não o permito, quis escrever fosse o que fosse, parvo ou não.
Isto sou eu, escrita. E a escrita faz parte do que sempre serei, dê por onde der. O leitor é exigente, mas não tanto quanto eu sou comigo. Mais uma noite em branco sem conseguir escrever linhas significativas do meu próximo conto. Ás nove da manhã chegaram rápido e em movimentos lentos vesti-me e os meus pés entraram nas botas. Pareciam pesadas naquele dia, mais que nos outros. A luz incomodou-me os olhos, perfurando a minha sonolência. A caminho do café pensei no que faria para completar o prazo de escrita, tinha mais dois meses e não havia conseguido escrito nada nos meses anteriores. Que inutilidade. No café encontro o Victor num canto da mesa do canto. Sim, que redundância, como as minhas noites em claro a escrever nada. Aceno-lhe e ele responde, com as suas olheiras distintas. Esboço um sorriso amarelissimo. Peço um café cheio e um pastel de nata com canela. O costume. No fundo do meu cerebro aquela rotina podia ligar novamente o que queria. A escrita.
Sento me ao lado do Victor. «Hey.» Digo eu. «Hey.» Diz ele. «Como vai a escrita?» «Péssima. Não escrevi nada novamente.» Não consigo esconder nada, podia fingir sucesso... «Tendo em conta o teu problema...» Ele sorve um pouco do leite com café que bebia. «Devias mudar a tua rotina. Arranjei-te uma solução. Infelizmente tenho de passar com a familia o natal.» Não tenho familia na cidade onde vivo, e não tenho ligações significantes com quem me pertence, o natal era passado onde fosse. «Por isso podes usar a casa que tenho no Alentejo no natal, mudar essa rotina pode ser que te inspire. As paredes do teu quarto já devem tar fartinhas de olhar pra ti a desesperar.» Riu-se, o sacana. Era sacana mas era amigo, sempre achei que a ironia funcionava melhor nos outros do que em mim. Falta de treino provavelmente. «Talvez tenhas razão... passar o natal sozinho a escrever pode resultar para mim. Ou pelo menos não incómodo a minha familia com a minha depressão. Nesta altura preferem todos prendas e alegria, não chatos escritores.» «Ora bem, então toma as chaves e a morada. Não me destruas a casa, aproveita que aquilo fica numa vila alentejana sem muito para te distrair tirando florestas, casas dispersas e os sinos de uma igreja qualquer.» «Mas que bom... desde que não me dê uma de Shinning e com cabin fever começar a matar pessoas pela vila... Acho que pode resultar.» «Isso era ironia?» «Tentativa de...» «Bem me pareceu.» Aparentemente nem no humor eu estava inspirado.
No comments:
Post a Comment