Monday, March 26, 2007

Fortaleza da Lança



Assisto ao decorrer da fita sozinho, sossegado, sem nada a perder senão a segurança uma vez mais. Mas não, não sairei deste rochedo onde me prendo, mesmo sofrendo de dor.
Serei para sempre uma estátua obscura.
Um corte na pele que dói mas não sangra.
Sou eu, sou a loucura nos meus olhos e a raiva que me move num instante.
Sou um calor que faz queimar lentamente, até crepitar.
Não abrirei os meus portões até ter certezas de quem me bate nestas madeiras duras que eu próprio ergui.
Continuarei sozinho na praça vermelha, arrancando folhas ao salgueiro, até não haver nenhuma, mas ainda falta muito tempo.
Serei eu o cavaleiro errante contra a bruma?
Conseguirei eu bater em sombras?
Será a minha lança dourada longa o suficiente?
Será que vou fazê-lo sabendo do risco?
Continuarei a ser um pombo, por enquanto, daqueles que ninguém repara realmente. Serei um pormenor da paisagem, uma vírgula no poema, uma onda no oceano.
Porque gosto de ti, mais nada. Nada tão intenso como a raiva que sinto, mas talvez o será, ou mais ainda.
Porque gosto de ti, mas confiança é uma lâmina de dois gumes. E já me cortou a meio antes. Demorei imenso a agarrar os pedaços.
Porque gosto de ti, mas tenho de te ver e tocar para saber o que sinto.
Porque gosto de ti, mas o meu coração é confuso e não conhece mais nada do que a raiva.
Porque gosto de ti, mas os casulos de fio de aço não abrem assim tão facilmente.
Porque neste momento tenho a minha fortaleza e a minha lança e sinto me seguro.

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