Wednesday, March 15, 2006
Tolo
Tolo
Caio de dores, entro num deserto fumarento. Remexo os cabelos, toco na cara, cheio de desejo de querer tocar e não poder.
Salto no ar, encho o peito de ar, sinto me eufórico, sinto me excessivo. Toco no chão, sinto a terra, poiso devagar.
Bato na parede de mão fechada. Dor física sobrepõe a verdadeira dor. Uivo de desespero. Encontro e perco, jamais na onda certa, jamais no acorde exacto. Oiço um bater, oiço um grito, brinco sem pensar, sinto sem descansar. De sentimento saem as palavras que escrevo. De receio fico sem saber a tua reacção. De adoração sou largado num poço já seco. Sedento, esgravato o chão á procura de uma única gota, serena e rara de encontrar. Porque raras são as gotas neste mundo poeirento. Encontro mas não bebo. Olho e penso em fazê-lo. O medo impede-mo, o momento passa e a gota seca. A marca fica na minha mão ensanguentada.
O meu mundo treme por dentro, como depois de sentir um prazer indescritível, um sabor indiscutivelmente adocicado que penetra e não quer sair. Um vírus dos sentimentos, o amor, esse bastardo da dor, esse filho indesejado mas amado.
Morro. Não respiro. Sinto uma respiração ofegante, é a minha. Ilusão, doce ilusão, o que é esse cheiro almiscarado que me rodeia? És tu amor, que me chateia? Sai! Sai daqui, ignorante sentimento! Misto de prazer e saudade, ódio e carinho…
Choro. Grito, aperto o punho e esmago tudo. Raivoso e enervado. Jamais! Jamais quero isto, mas desejo-o. Sou tolo, estou sozinho…
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